domingo, 29 de março de 2009

O FIM DA NOSSA TERRA

- E se a gente ficar em extinção, Calú? E se o mundo deixar de existir? E se a Rússia e os Estados Unidos e a China lançarem a bomba atômica no mundo todo, Calú, o que será da gente, os cachorros, os humanos, as baratas, os ratos, os camundongos, as crianças e...
- Que que é, Pilú? Vá azarar outro.
Tô falando sério. Imagine o fim do nosso meio ambiente, porque ele é o que temos de mais valioso. Aí vamos respirar por aparelhos – e sem contar os olhos que nascerão nas nossas costas, em nossa testa, em nossos braços. Teremos três bundas, seis patas, quatro orelhas, dois focinhos, três rabos bem longos, assemelhando-se, assim, a tranças viking, isso tudo por conta da radiação da bomba. Agora, olha só, o fogo da bomba é assim, ó, bem grande, e faz um cogumelo lá no alto, Calú. Depois ele desce, tão fulminante quanto o próprio fogo do inferno, e arruína tudo o que vê pela frente. Andaremos caçando ratos, baratas ou insetos sobreviventes, para nos alimentarmos, porque a fome alastrará, destruirá, devastará e tudo rá, aqui na terra.
Se a gente sobreviver, não é, Pilú?!
É Calú, é.
- Não, não, eu estou sufocado. Imagine os prédios pegando fogo, as pessoas suicidando-se dos edifícios, desesperançadas da vida. A terra se rachando, o diabo sorrindo da gente, Calú – e sem contar os assaltos, os homicídios, porquanto o ser humano é maluco, deixe-o afligido e ele mata a própria mãe para sobreviver.
Pára Pilú, você tá doido. Olha que Deus vai te castigar por conta desses pensamentos.
- Calú, novas doenças surgiram – crianças com deficiência física e mental; cachorros sem pernas, gatos sem bigodes ou miados. Trocar-se-á tudo, Calú, porque os gatos rosnarão, as pessoas miarão como gatos, nós, os cachorros, falaremos e andaremos como humanos, e estes rastejaram como serpentes malignas, porque elas dominaram o mundo. Estamos destruindo o meio ambiente.
- De que forma Calú, somos cachorros?
- Mas peidamos.
- E o que diabo tem o nosso peido, Calú?
- Eu não sei, alguma coisa eu sei que tem. Olhe quantos carros, caminhões e fábricas despachando fumaça pelo escapamento. São milhares de empresas e veículos com as suas chaminés assassinas. O dióxido de carbono em nossos pulmões. É como se estivéssemos fumando um maço ou mais de cigarros por dia. Pense bem: em todo o mundo há fábricas, carros, queimadas, chaminés. Essa fumaça vai para o céu, machucando-o, ferindo a camada de ozônio, bolinando a gente. Deve ser esse o motivo desse calor horrível, ardido, doente. Ninguém vê o estrago no mundo. As pessoas são alheias ao nosso ar. O sol é tão gostoso de manhã, mas arde pra danar à tarde, chega a ferir o couro da gente, Calú. Sem contar as pobres das árvores urbanas, como sofrem. Meu Deus, os mares estão morrendo, seus habitantes, os peixinhos e os peixões, Calú, estão morrendo, coitadinhos deles. A Terra está sofrendo, inalando esta poluição toda do mundo; e essas sujeiras espalhadas pelos rios que causam enchentes devastadoras. Estamos destruindo a nossa natureza. E os pingüins, coitadinhos, como sofrem. A nossa floresta amazônica encontra-se devastada por tratores, queimadas, serras elétricas. Tudo isso para que possamos deitar em camas caras pra dedéu, que quase não conseguimos comprar.
– Você é catastrófico, Pilú.
– Cata o quê?
– Catastrófico. Fica imaginando catástrofes.
- Calú, o que disse? Você é muito insensível. Não se importa se tudo acabar: a terra, o ar e o mar? Não se importa de não mais amar, a vida, as coisas e o luar? Hoje faz calor, amanhã faz frio, depois neva. Todo mundo está sofrendo com tosse, problemas respiratórios. Os rios transbordando.
– Mas aqui não neva, Pilú.
– No sul neva, em outros países neva, a terra é uma só. Calú, o que é isto?
– É bosta de cachorro.
- Eita, pisei na bosta de algum cachorro porco.
– Foi você mesmo que cagou.
– Quê, Calú? Eu faço isso não.
– Foi sim, eu vi.
- Eu jogo o meu lixo no lixo, contribuo para que as enchentes não aconteçam. Tudo de bom que você fizer para o meio ambiente contribuirá para o bem dele e para o nosso e para a terra.
– Você é um porco, Pilú, eu te vi cagar ali.
- O nosso ar agradecerá.
– Eu te vi cagar.
- As árvores agradecerão.
– Eu te vi cagar.
- Eu e você agradeceremos, pois precisamos do meio ambiente sadio para respirar.
– Eu te vi cagar.
- É por isso que estou te contando o que está acontecendo.
– O que está?
– O que está o quê?
- O que está acontecendo, Pilú?
– Ô, Calú, você não está prestando atenção? Eu estava falando da poluição das fábricas, do fim da terra, do mundo, das pessoas, da vida, de tudo; falo dos carros e caminhões que rodam e rodam, todos os dias; das queimadas, enchentes, dos lixos que as pessoas jogam nas ruas, dos bueiros entupidos de porcarias, do dióxido de carbono introduzindo-se em nos pulmões.
- É mesmo, mas eu te vi cagar ali. Não tô louco.
- Imagine os animaizinhos em extinção. Essas coisas de defesa do meio ambiente, dos animais, disto, daquilo, que existem no mundo todo, ONGs e tal, é tudo baboseira. Os estrangeiros cuidariam melhor da nossa Amazônia? Somos donos de um patrimônio e tanto, mas nós o desprezamos. Tenho certeza, Calú, que em poucos anos vamos estar queimadinhos, assim como carvão, tamanho é o calor solar. E os papéis, os copinhos de plástico desperdiçados, jogados no lixo, para serem deteriorados pelo tempo. Sua deterioração leva anos. Podem ser reciclados e virar papel bonito e copo bonito, novinhos em folha como antes. A madeira é usada para se fazer o papel no qual escrevemos cartas e romances bonitos. E se a vida acabar, não vamos mais poder escrever nada, e as madeiras também não vão existir. Elas, as árvores, choram quando uma máquina ou um serrador vai boliná-las, machucá-las e magoá-las e tudo á-las. Por que as pessoas não tomam tento do que estão fazendo? Por que os empresários querem tanto dinheiro? Pois não se importam com a nossa preciosa terra? Meu Deus, estou passando mal, Calú, me acuda, não consigo respirar. Essa fumaça me sufoca, os caminhões não param de jogar fumaça, os carros buzinam e intoxicam o ar, o ambiente, eu, você, estamos morrendo – olha, eu vejo as pessoas suicidarem-se. Não há respeito com nada. Me acuda, Calú, acho que vou morrer.
– Meu Deus, Pilú, olhe para mim, você não pode morrer.
- Tudo está destruído, Calú, os bichos estão em extinção por conta da nossa ignorância. As árvores sangram por conta do nosso luxo tolo. Há tornados, furacões, a Terra rebela-se contra nós, acabar-se-á tudo. A Antártida está derretendo, não vamos mais ter gelo. Vou morrer, Calú, vou morrer, porque é melhor morrer a viver neste lar-terra que não é mais lar-terra e que irá ser destruído em pouco tempo.
- Pare com isso, tá me dando medo. Por que você foi cagar no chão, Pilú?
- Socorro... Onde está o nosso meio ambiente, a nossa terra? Onde estão o amor, os peixes, os bichos, Calú?
- Posso ir com você, Pilú? Tô com medo.
- Para onde, Calú?
Ora, para onde você vai.
- Olhe aquela fumaça, Calú, olhe lá ela. Vai nos pegar, nos matar, nos sufocar, nos estrangular. Vou para o mundo dos cachorros, Calú, não é isso que somos? Cuidado, o sol vem aí de novo. Esconda-se.
- E onde é isso, diga logo, onde?
- Na cachorrolândia, pois lá tudo é verde e vida e não há destruição.
- Então, vamos logo, Pilú.
- Vamos. Olhe, me ajude aqui, amigo velho. Vem cá, me dê um abraço. Sim, sim, lá poderemos respirar, mas infelizmente presenciaremos o fim da nossa terra.

CRISÁLIDAS ROSAS CÁLIDAS



O diabo acenou-me de uma rua de terra, estourando o seu dedão gordo, pequeno, de unhas feias e doentes, atrás de um poste velho, perto do meu agressor - pá-bum, em mim (o agressor), lançando-me para muito próximo do mesmo poste na qual se postava o demo, rindo-me das cadeiras fodidas. Feriu-me, o carro, lanceando as minhas pernas estioladas - o agressor embriagado babava, gaguejava desculpas pouco palatáveis: “Desculpe-me.”
Eu espiava o dos chifres da janela encardida da sala da minha casa: – Ei, você, putativo, filho da puta, sua mãe tem ferida na bunda - manguei dele e ele, ah, ele virou uma fera, estirou-me um palmo de língua-mais-que-feia. Sorriu-me após. Pouco dei bolas àquele lá – só se eu der as minhas bolas de baixo, porque outras deveras eu não as tenho e não as dei; bolas de basquete ou de salão: “Queres, capetão, besta-fera, irônico príncipe das noites terríveis fatais?”
- Muito obrigado – agradeceu-me ele por não sei o quê, coçando o rabo, rindo, pondo os dedos fétidos em suas ventas de porco: ronc, ronc.
As minhas pernas corriam desesperadas, jogando bola, chutando cus magrelos, bailando aqui, acolá, assemelhando-se a gravetos desvairados. “Por nosso Senhor” – diziam as minhas pernas fugidias ao ouvir os meus gritos, apesar dos meus brados não serem de dor e não terem som.
Encontro-me deitado na mesma rua terrosa, próximo ao mesmo poste, na qual o demônio ri agora desvairado de mim. Contudo, umas pessoas observam queimar os gravetos – com os quais fiz alusão às minhas pernas (Mentira minha, fiz alusão coisa nenhuma!), sem maior acuidade nos olhos arrogantes. Queimam-se os gravetos em um fogo junino.
Escuta-se habitualmente a ledice da batata doce estralar: trec, trec, o pinhão ser descascado, conversas desnecessárias ou alegrias forçadas de ditos cujos perderem-se pela noite mais ou menos fria, junina. Os olhos curumins deixando-se estar apaziguados – deles, os ditos cujos -, sem poesias, diante da fogueira junina, da batata doce, do pinhão, da alegria forçada, da conversa desnecessária eclodindo do nada. Eu, preso nesta cadeira diabólica (cá), fico a observar as pessoas (lá – na rua terrosa, onde me estirei outrora acertado por um carro) a distância, neste tempo excêntrico, onde não há poesia, todavia há os blá-blá-blás: “Oi.” “Olá, não vão ficar?”, inquiro em vão. Sei, os blá-blá-blás não são mais meus amigos, já pertencem a outros abjetos blá-blá-blás.
Quando eu tinha as minhas pernas, todas as mulheres, crianças, homens e o próprio diabo vinham-me fazer visitas, fazer-me companhia ou dar-me beijos no rabo, sussurrando-me o amor ser um sentimento inacabado, ainda que nos Dias dos Namorados, cujos lambiscos nos lábios cadentes são por demais um dengo agradável a todos, todos se portem como mimosos, dengosos, manhosos, muito embora, depois que se finda o amor, os xingamentos, os-vai-tomar-no-seu-cus prevaleçam eminentes. “Alô?” “Vai tomar no seu cu.”
Então uma alegria me joga na parede e dá-me tabefes valentes na cara-risonha, pois eu me escancaro em gaguejar, embriagado pela ventosidade emitida pelo cu de Baco; eu, imbecil feito só, idiota, porém fantástica poesia eu faço emborrachado pela ventosidade emitida pelo cu de Baco:
Amorzim da minha vida,
Paixão do meu bem-querer,
Serei teu por toda vida,
Se minha fores até morrer.
Quero cruzar os céus, brincar de burquinha, amar com verdade o amor da minha vida: a menina de pele guarada, eu a conheci uns-tempos-outros-atrás – ah, minha bela e doce amada, como é bom te amar e te amar e te amar.
Fosse assim, ó: eu no hospital, uma gorda enfermeira de bigodes mexicanos bolinando em minha bunda fofinha - pá-bum: “Ai, ai, tira a mão daí.” Só compreendo: o meu agressor e o diabo correram com as minhas pernas fugidias.
O diabo acenou-me com o dedão feio, gordo, de unhas amarelecidas e doentes – pés de bode o diabo possuía. “Cacete!”, exclamei tendo os olhos perdidos, embora sentisse vaguear acima dos meus sobrolhos as Crisálidas Rosas Cálidas. Elas banhavam a Flávia Encanto com devaneios outros. Loucuras nostálgicas perseveravam em mim. A Flávia agitava-se na grama do campo florido. Uma cabrita levada, no campo, ao redor das Crisálidas Rosas Cálidas – e a Flávia inclinou-se para: “Quando ela serenava... a flor beijava-a... Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...”
Um leve vestido sobre o corpo guarado. Sem calcinha pequenina: “Que delícia”, disse eu, sem sentido, sem as pernas minhas fugidias, cheirando rosas.
- Peguem-no, ladrão! – berrei, assim que as perdi, as pernas. O demônio escapava com elas - cotocos. Os meus dedos dos pés sacaneavam-me com ri, ri, ri, o caralho e tal. Necessito-me das pernas para percorrer descaminhos, erros verossímeis, sou um ser humano.
No campo florido faria gostoso chá de camomila. Despejaria bastante açúcar em minha xícara de chá para fortificar-me o sangue escarlate – este pulsa feroz. No campo, cheirar-lhe-ia as Crisálidas Rosas Cálidas ou a Flávia Encanto. Sem as minhas pernas, tornou-se impossível tudo nesta vida. Orgulhoso, eu dizia ser dono dos descaminhos da vida. Que nada!
Todos os meus amigos usufruem das minhas pernas como desejam para chegar ao descaminho final, nas Crisálidas Rosas Cálidas.
Em mim estão os amores das Crisálidas Rosas Cálidas. Elas foliam com a Flávia Encanto. Insistente, esta as deseja beijar e beijar, mas nos campos bem verdinhos, floridos, onde a boqueira de peito amarelo grita: “Flávia Encanto, está sem calcinha – que delícia.” Ah, não, a Flávia troca as Crisálidas (ah, deixa pra lá)... e desembesta a correr atrás da boqueira de peito amarelo, só porque:
- Está sem calcinhaaaaaaaaaaaaaaaaaaa.
Sem ela, para mim, quem sabe: Flávia menina.
Encontra-se, ela, aqui, em mim, não morta, porém vivíssima, branca orquídea aprazível. Eu ficaria pelado ao seu lado, no campo, permitindo ao brando vento tocar a minha vida, sentindo patinhas de formigas percorrendo as minhas pernas, rumo ao meu rabo. Saíam formigas. Estou à procura das minhas pernas fugidias. Com elas poderei achar as Crisálidas Rosas Cálidas – ah, minha peônia branquela, canto-te bacânticas cançonetas, bichinho lindo, oi, amor e olá Flávia Encanto:
Em uma noite tu dormias
ao meu lado.
Suspiravas, encolhidinha,
E aos poucos eu tirava
A tua pequenina calcinha.
Foi assim, ó: quando eu percebi, já estava no hospital, sem sentir sentimento gostoso: pá-bum. No hospital, cotoco, vendo as minhas pernas loucas fugirem de mim, rindo-me da cara de susto que eu fazia: pá-bum, então pensei na Flávia, o meu grande amor, meu bichinho branco, meigo, no entanto brava-feito-a-peste - de bunda rotunda, peitos lindos feito pêras, pele tão assim e o diabo de tão cheirosa; cabelos longos, olhos azuis, voz possante, apesar de suave. Pá-bum. Eu no hospital, reclamando para uma enfermeira gorda sobre os maus-tratos ou as passadas atrevidas das mãos da senhora gorda em meu rabo despido; peituda, bunduda e tudo grande, a enfermeira:
- Por favor.
- Cale-se – berrou-me, encarando-me, socando o dedo no meu rabo e tirando e socando até que:
- Oi, amor – disse-lhe eu.
- Oi, bichinho – disse-me ela, o amor da minha vida.
O diabo, as pessoas, as crianças, as mulheres de saias curtas achincalham lá fora com o diabo e o meu agressor.
Lembro-me, cativo por minhas memórias doloridas, da mulher por quem morro de amoooooores.
Estou abancado nesta cadeira maldita. Mamãe dorme tranqüila. Eu invejo a vida. Ela passa ligeiramente, porque viver é um encanto. Como terei capacidade para encarar um novo começo? Todos os novos começos para um homem são começos e tantos, uma nova vida, as coisas dessemelhantes.
Observo o mundo vendo o meu reflexo da janela da sala. Começo a chorar. A campainha toca dim mais dom. Tento me levantar, percebo: não tenho pernas. Mamãe grita do quarto, quer água. Caio no chão. Todos me olham da janela da sala, o espelho que me refletiu por anos. Rastejo como a Barata de Kafka. Se preferir, Barata-Kafka ou Kafka-Barata. As lágrimas desabam de meus olhos, perfuram o chão avermelhado, concreto bravio – quando eu morrer, ainda serei concreto.
Arrasto a cortina. Fecho-a na cara dos patifes. Eles batem na janela, querem que eu vá achincalhar com eles:
- Não posso, cachorros.
Ainda rastejando, entro na cozinha. Ela tem o cheiro perfumado. Era o perfume da Flávia Encanto. Ai, quando fazíamos amor, olhávamos um nos olhos do outro – na minha cozinha onde se espalham cuecas e meias e CDs meus de EBM.
Umas Crisálidas Rosas Cálidas dançam para mim, festejam a morte minha em minha cozinha, onde se espalham cuecas e meias e CDs meus de EBM e outras coisitas mais, como garrafas de Campari e Cynar, papéis velhos, poesias ordinárias.
O cemitério é um lugar de sofrimento. Lá se cessam vidas precocemente. Vidas daquelas pessoas que gritam para eu sair e divertir-me. Sorrir nunca mais! Vocês estão mortos. Pssssiu.
Encho um copo com água. Vou até o quarto de mamãe. Abro a porta. O sol introduz-se na fresta da janela do recinto.
Após beber a água, mamãe beija-me as faces regadas por lágrimas. Lembro-me de quando ela deu-me um tapa tão violento que quase me arrancou o diabo da orelha. Puniu-me por eu ter ido brincar de burquinha sem sua permissão.
- Para os diabos! – irritei-me.
O universo é tão negro. “Calem-se, canalhas, o mundo necessita de silêncio.”
Entro em meu quarto – tão tenebroso. O diabo encosta-se preguiçoso em meu ombro.
- Arreda, pois.
- Então tá – diz-me ele, sacolejando os ombros pretos em desdém, deixando-me um cheiro de enxofre – diabo dos diabos!
Enrolo-me dos pés à cabeça. Prefiro morrer assim, sem ver o dia passar. Em meus pensamentos, as Crisálidas Rosas Cálidas perfumam o corpo gostoso e alvo da Flávia-Meu-Encanto-Meu-Amor-Minha-vida-Minha-Crisálida-Rosa-Cálida-Pequenina.

FLÁVIA


Hoje eu senti uma dor que já bem conhecia.
Era algo que por algum tempo eu deixei de sentir.
Sentei-me na cadeira e pus-me a escrever o que foi você para mim:
Uma rosa - uma rosa em meu imundo jardim.

MARIA BONITA - DE SAIA BAILANTE!...



Saudamos Lampião, a cara bruta, a lambedeira,
Oh, Maria Bonita de saia bailante!
De amor ela amou o Lampião luzente,
Por amor ela morreu por uma terra errante!

EU ESTOU


Oh, eu estou puramente num estado Deplorável,
Talvez tenha se perdido a parte em que me cabia a Emoção.
Desejo muito o amor que, demasiadamente Mutável,
Perdeu-se na minha demasiada Paixão.