quinta-feira, 12 de março de 2009

COVEIRO


Coveiros, carruagens efêmeras da alheia dor.
Nas exéquias, a lágrima de todos perdura;
E o denso ar sufocante da fria cova escura
Faz deslocar-se o cântico sereno de um dia sem amor.
Abrir-te, ó terra desvirginada e dura,
É um terror para a carne gélida desfalecida.
Esfria a alma de quem espera, esmorecida
Onde a lágrima desce e a dor perdura.
E da terra à terra; a unificação do homem,
Divino ser, por Coveiros jogado às tártaras trevas,
Perdura afagado pelos vermes que o comem;
E o Coveiro vira um símbolo das desgraças feras.
O gramado já não cresce tão florido
No lugar onde jaz um sepultado,
E o Coveiro sabe bem cuidar do fado
Do jardim que há muito jaz dorido.
E a chuva cristalina limpa o mármore,
Pedra gélida e numerada, mas aquecida
Pelo divino Hélios - deus do sol,
E pelos anos tornar-se-á a pedra esquecida.
E a morte ainda a alma do Coveiro desconhece,
E conhece a alma do Coveiro a morte alheia;
E das frias faces funéreas de um Coveiro
A esperança raia – é sempre um belo dia.
E no campo florido, uma flor esbelta
Esfria-se na alvorada, esperando que amanheça.

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